Acidentes acontecem...foi o que ela disse para ele depois que sem querer ele pisou nas rosas que ela havia derrubado no chão, ele ficou com cara de quem fez a pior coisa do mundo, o sorriso dela não era de alegria, mais de quem aceitava o que tinha ocorrido e estava pronta para seguir em frente.
Quem te comprou as rosas? Ele perguntou
Meu ex, ela disse.
Ele esta a um tempo tentando me reconquistar e a sua nova forma de me bajular são rosas vermelhas, nem são as minhas preferidas, se ele ao menos me conhecesse direito, mais acho que é normal os caras não saberem dessas coisas mesmo.
Uma breve troca de palavras, foi assim que eles se conheceram, foi por acidente, as rosas morreram e ajudaram a enterrar de vez o antigo amor, ele se ofereceu para acompanhá-la até sua casa e ela aceitou, gostou da gentileza do rapaz, começaram a conversar e logo descobriram que ambos adoravam cinema, nutriam uma admiração por Jonh Cusack, ela achava ele lindo, ele achava bom ator. Finjo que acredito, ela disse. John Cusack leva a “Alta Fidelidade” que leva a gosto musical que leva e um aparelho de som sobra a cabeça tocando Peter Gabriel que leva a Jonh Cusack que o garoto jura que não tem uma queda por ele. Eles chegam na casa dela e se despedem com um beijo no rosto e ambos se viram, cada um em sua direção, ele atravessa rua e ela entra na sua casa enquanto faz brincadeiras com seu cachorro que arranha a janela da sala quando a vê. Ela entra em casa, ele se vira, ela não esta mais lá.
No outro dia ela acorda e toma leite com groselha, sua bebida preferida, a campainha toca, ela abre e recebe um buquê de flores, ao que parece, ao ver de perto percebe que são flores de chocolate e nelas tem um cartão que diz “Fui burro e não perguntei suas flores preferidas, espero que aceite de chocolate, que é a cor dos seus olhos”. Ela ri, não como riu quando ele pisou nas flores, mais um sorriso aberto, de quem fica feliz pela primeira vez em muito tempo,no fim da frase, um número de telefone.
Depois de pensar por algum tempo ela liga, ele atende e nem precisa perguntar quem é, reconheceu sua voz pelo “alô”, ela agradece o presente, eles começam a conversar novamente, John Cusack, séries de TV, música, em especial as deprimentes, que ambos estranhamente apreciam, “Creep”, The Blower’s Daughter”, “Vento no Litoral” e tantas outras que fazem chorar, mais agora o que eles fazem é rir, um do outro, das histórias que contam, ele abre seu coração e ela escuta, cada detalhe com atenção, despeja palavras sinceras de afeição depois das coisas ruins que ele diz que aconteceu com ele, ele nunca tinha recebido esse tipo de atenção e fica feliz por ter isso nesse instante, e com ela, a menina de olhos de cor de chocolate. Horas se passam de conversa, era dia quando ela ligou, agora as estrelas estão no céu, nenhum quer dar tchau, resolvem marcar de se ver. Onde? Ela pergunta. Na onde tudo começou, ele diz, onde eu pisei em suas rosas.
No outro dia, antes do horário combinado lá estão eles, ao se verem não tem abraço nem beijo no rosto, mais sim beijo nos lábios, o sabor era o que cada um imaginava, era um beijo que combinava, era o primeiro, aquele que nenhum jamais iria esquecer.
Uma tarde no cinema, uma noite em uma doceria, uma manhã na cama, palavras sussurradas ao pé do ouvido, apelidos carinhosos, troca de músicas, dicas de séries de TV, dica de filmes, piadas sem graça, piadas engraçadas, cócegas na barriga, cócegas no pé, um pouco de ciúmes, muito ciúmes, uma noite acordado juntos, uma noite dormindo juntos, noites separados, noites agarrados, dias sem se falar por uma briga idiota, uma tarde toda fazendo as pazes ao perceber a idiotice, semanas passam, meses passam, e eles nem percebem.
A frase esta na ponta da língua de ambos, mais eles não dizem, ela tem medo que ele não diga de volta, ele tem medo pois toda vez que disse algo deu errado. Eu te amo, ela diz. Ele sorri e a beija, e pensa. Eu devia ter dito, ele pensa.
Ele não devia ter saído de casa, amigos o chamam para uma noite em um barzinho e ele vai, ele não devia ter ido, ele sabia disso, lá ele encontra outra pessoa, alguém do passado, alguém que ele não queria ver, ele ficou com medo, “eu devia ter dito” pensa ele, “por que foi que eu não disse?”. Ela se aproxima, ele se esquiva, ela se aproxima novamente, ele não se mexe, o medo da frase o empurra para fazer a coisa errada, ele sabe que é errado, ele sabe o que está arriscando, ele sabe o que sente, mais ele não se controla, ele comete o pior erro da sua vida, e comete mais uma vez mais tarde, e mais uma vez no dia seguinte, e por repetidas vezes, mesmo que fechando seus olhos ele ainda veja ela.
Eu te amo, ele diz. Os olhos dela sem enchem de lágrimas, mais não de felicidade, e sim de tristeza, eu sei de tudo ela diz, ele nega, ele grita e ele xinga, tudo em vão. Ela também xinga, ele sabe que merece, ele sabe que estragou tudo, ele cai de joelhos e ela não liga, ele pede perdão, ela não aceita e vai embora, um tapa na cara dele antes de se virar para nunca mais voltar, ele fica no chão.
Noites passam, ele não dorme, ele chora. Ela não dorme, ela chora. Quer esquecer que um dia beijou a boca dele, ele quer lembrar pra sempre dos beijos dela, os beijos que nunca mais vai ter, ela não pode nem ouvir o nome dele, ele só pensa no dela. Ela sai a noite com as amigas, ele fica em casa sozinho, ela conhece alguém. Ele não pensa em mais nada.
Muito tempo passa, ele a vê na rua sorrindo, um sorriso novo, que ele não conhecia, ela não o vê, ele pensa em chamar mais não o faz, e vê pela última vez a menina de olhos cor de chocolate.
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Um comentário:
Everybody lies.
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